Aborto – o que diz a legislação Brasileira?

 

O aborto é um tema complexo e controverso, que envolve questões éticas, morais, religiosas e jurídicas. No Brasil, a legislação sobre o aborto é restritiva, refletindo a influência de diversos fatores socioculturais e políticos. Este artigo tem como objetivo examinar as disposições legais brasileiras referentes ao aborto, bem como discutir as implicações e debates em torno desse tema.

A Legislação Brasileira sobre o Aborto

Código Penal Brasileiro

O aborto é, em regra, criminalizado no Brasil pelo Código Penal de 1940. Os artigos 124 a 128 do Código Penal estabelecem as circunstâncias em que o aborto é considerado crime e as penas correspondentes.

  1. Artigo 124: Prevê pena de um a três anos de detenção para a mulher que provoca o próprio aborto ou consente que outrem lho provoque.
  2. Artigo 125: Estabelece pena de três a dez anos de reclusão para quem provoca aborto sem o consentimento da gestante.
  3. Artigo 126: Define pena de um a quatro anos de reclusão para quem provoca aborto com o consentimento da gestante.

Excludentes de Ilicitude

O Código Penal também prevê duas situações em que o aborto não é punível:

  1. Aborto Necessário (Artigo 128, Inciso I): Quando não há outro meio de salvar a vida da gestante.
  2. Aborto no Caso de Gravidez Resultante de Estupro (Artigo 128, Inciso II): Quando a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Aborto de Fetos Anencéfalos

Em 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, no julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 54, que a interrupção da gravidez de fetos anencéfalos não constitui crime. A anencefalia é uma condição congênita grave, caracterizada pela ausência parcial ou total do encéfalo e da calota craniana, tornando a sobrevivência do feto fora do útero inviável.

Debates e Implicações

Saúde Pública e Direitos Reprodutivos

Os defensores da descriminalização do aborto argumentam que a criminalização não impede a prática, mas a empurra para a clandestinidade, colocando em risco a saúde e a vida das mulheres. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), abortos inseguros são uma das principais causas de mortalidade materna no mundo.

A descriminalização, segundo esses defensores, permitiria que o aborto fosse realizado de forma segura e regulamentada, garantindo os direitos reprodutivos das mulheres e promovendo a saúde pública.

Perspectiva Conservadora

Por outro lado, grupos conservadores e religiosos sustentam que a vida humana deve ser protegida desde a concepção e que o aborto é moralmente errado, independentemente das circunstâncias. Esses grupos defendem políticas de apoio à maternidade e alternativas ao aborto, como a adoção.

Questões Jurídicas e Políticas

A legislação sobre o aborto no Brasil tem sido alvo de intensos debates e propostas legislativas. Projetos de lei que visam ampliar ou restringir ainda mais as condições para a realização do aborto são frequentemente apresentados no Congresso Nacional. A questão também envolve a atuação de diversos atores, incluindo o Judiciário, que tem sido chamado a se pronunciar sobre casos específicos e sobre a constitucionalidade de normas relacionadas ao aborto.

O aborto no Brasil é um tema complexo que envolve uma série de questões legais, éticas e sociais. A legislação atual, embora restritiva, permite o aborto em casos específicos, como risco à vida da gestante e gravidez resultante de estupro. Decisões judiciais, como a permissão para o aborto de fetos anencéfalos, têm contribuído para moldar o cenário legal e abrir novos debates.

À medida que a sociedade brasileira evolui, a legislação sobre o aborto continua a ser um campo de intensa disputa e debate, refletindo as profundas divisões e valores em jogo. Independentemente da posição individual sobre o tema, é essencial que o debate seja conduzido de forma informada e respeitosa, com atenção aos direitos humanos e à saúde das mulheres.

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