Bebê Reborn: Brinquedo Terapêutico ou Sintoma de Solidão? Entenda o Debate

Nos últimos meses, o tema bebê reborn voltou ao centro das atenções nas redes sociais e em programas de televisão brasileiros, gerando um intenso debate sobre os limites entre afeto, saúde mental e consumo. Esses bonecos hiper-realistas, que imitam com impressionante fidelidade os traços e comportamentos de um recém-nascido, dividem opiniões: seriam eles apenas brinquedos ou refletem um vazio emocional mais profundo?

O Que São Bebês Reborn?

Criados inicialmente nos anos 90 nos Estados Unidos, os bebês reborn são bonecos confeccionados à mão com materiais como vinil siliconado, cabelos naturais implantados fio a fio, pele pintada com veias e marcas semelhantes às de um bebê real. O nível de realismo é tão alto que, à primeira vista, muitas pessoas os confundem com crianças de verdade.

No Brasil, a febre dos reborns se intensificou na última década, mas ganhou um novo fôlego em 2024, impulsionada por vídeos virais de "mães de reborns" exibindo suas rotinas com os bonecos — dando mamadeira, trocando fraldas e até passeando com carrinhos pelas ruas.

Um Brinquedo ou Um Apoio Emocional?

Para muitas pessoas, especialmente crianças e idosos, os bebês reborn são vistos como ferramentas terapêuticas. Em casas de repouso, por exemplo, eles são utilizados para estimular a memória afetiva de idosos com Alzheimer, trazendo conforto emocional. Entre crianças, funcionam como brinquedos educativos que estimulam o cuidado e a empatia.

Psicólogos ressaltam que o uso dos reborns com orientação adequada pode sim ser positivo. "Quando bem conduzido, pode ser um suporte emocional. Mas o problema começa quando substitui vínculos reais", alerta a psicóloga Ana Ribeiro.

A Polêmica: Uma Fuga da Realidade?

O debate ganhou contornos mais acalorados quando vídeos de adultos tratando os reborns como filhos reais se tornaram virais. Internautas dividiram-se: alguns veem a prática como uma expressão inofensiva de carinho; outros enxergam um sintoma preocupante de solidão ou até distúrbios emocionais não tratados.

Segundo especialistas, o apego excessivo a objetos — mesmo que elaborados como os reborns — pode ser um mecanismo de defesa contra perdas, traumas ou isolamento social. Em alguns casos, pode indicar transtornos como depressão ou transtorno de personalidade, especialmente quando há recusa em aceitar a diferença entre fantasia e realidade.

O Papel das Redes Sociais

A internet, especialmente o TikTok e o Instagram, vem impulsionando a exposição dessas interações com bebês reborn, com vídeos que recebem milhões de visualizações. A busca por audiência e curtidas transforma essas bonecas em parte de um "reality pessoal", onde o limite entre encenação e convicção muitas vezes se torna nebuloso.

A discussão ganha tons ainda mais complexos quando envolve monetização: influenciadores vendem cursos de "como cuidar do seu reborn", tutoriais de maquiagem para deixar os bonecos mais realistas e até planos de enxoval — tudo isso alimentando um nicho de mercado que movimenta milhares de reais.Uma Questão Que Vai Além do Brinquedo

O fenômeno dos bebês reborn revela muito sobre a sociedade atual: a busca por afeto, a fragilidade dos laços sociais e a facilidade com que se forma um mercado em torno da carência humana. Mais do que julgar, talvez seja hora de refletir: o que nos falta como sociedade para que tantas pessoas encontrem consolo em bonecos?

Enquanto isso, o debate continua — e deve seguir ganhando novos capítulos nos feeds, nos consultórios e nas rodas de conversa por todo o país.

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