A reforma da previdência brasileira trouxe mudanças significativas para vários grupos de trabalhadores, incluindo as mulheres trabalhadoras rurais. Esse segmento, historicamente responsável por grande parte da produção agrícola familiar e subsistência do país, enfrenta desafios específicos na busca pela aposentadoria devido às condições de trabalho e à informalidade do setor. Abaixo, exploraremos como essas mudanças afetam diretamente essas mulheres e o que elas precisam saber para se adaptar ao novo cenário previdenciário.
1. A Situação das Mulheres Trabalhadoras Rurais na Previdência
No modelo previdenciário anterior, as mulheres trabalhadoras rurais tinham um regime diferenciado que considerava as condições de trabalho muitas vezes extenuantes e o baixo acesso a serviços e infraestrutura. Elas podiam se aposentar aos 55 anos, desde que comprovassem 15 anos de trabalho rural, sem a necessidade de recolhimento mensal para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Esse regime foi essencial para muitas mulheres que trabalham na agricultura familiar, um setor em que os baixos rendimentos tornam inviável a contribuição constante.
2. Mudanças Trazidas pela Reforma da Previdência
Com a reforma da previdência aprovada em 2019, ocorreram algumas alterações nas regras para a aposentadoria rural, que impactam tanto homens quanto mulheres. Entretanto, as mudanças para as mulheres foram menos radicais, reconhecendo as peculiaridades do trabalho agrícola e os desafios enfrentados por essas trabalhadoras. Entre as principais mudanças estão:
- Idade Mínima e Tempo de Contribuição: A idade mínima para aposentadoria das mulheres trabalhadoras rurais permanece aos 55 anos. O tempo mínimo de comprovação de atividade rural também permanece em 15 anos. No entanto, há uma maior fiscalização e controle sobre a comprovação de atividade rural, o que pode dificultar o acesso à aposentadoria para algumas trabalhadoras.
- Regime de Contribuição: Para as mulheres que atuam no regime de economia familiar, sem empregados, o sistema permanece sem exigência de contribuição mensal direta. No entanto, a comprovação de atividade rural deve ser feita com mais rigor, como forma de garantir que os benefícios sejam destinados exclusivamente a quem, de fato, trabalha no campo.
3. Dificuldades de Comprovação do Trabalho Rural
Um dos principais desafios enfrentados pelas mulheres trabalhadoras rurais é a comprovação do tempo de atividade no campo. Como grande parte dessas mulheres trabalha em regime familiar, sem carteira assinada ou registros formais, é comum que tenham dificuldade em apresentar documentação que comprove sua atuação. Após a reforma, os critérios para comprovação se tornaram mais rigorosos, exigindo documentos como notas fiscais de venda de produtos agrícolas, declarações do sindicato rural, e outros comprovantes de vínculo com a atividade agrícola.
Essa exigência representa um entrave para muitas mulheres, especialmente as que vivem em regiões mais isoladas e têm acesso limitado a serviços como assistência técnica e sindicatos. Assim, é importante que as trabalhadoras rurais busquem orientações para organizar essa documentação o quanto antes, assegurando sua aposentadoria no futuro.
4. Como as Mulheres Trabalhadoras Rurais Podem se Preparar?
Para que as mulheres trabalhadoras rurais possam acessar o benefício previdenciário de forma mais tranquila, algumas estratégias podem ser adotadas:
- Organização de Documentação: Manter documentos que comprovem a atividade rural, como contratos de arrendamento, notas fiscais e documentos fornecidos por cooperativas ou sindicatos, é essencial. Essa documentação comprova o tempo de serviço e evita problemas ao solicitar a aposentadoria.
- Cadastro no Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF): Esse cadastro, promovido pelo governo, facilita a comprovação de atividade rural para quem trabalha em regime familiar. O CAF substitui a antiga Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) e ajuda a formalizar a atividade agrícola de pequenos produtores.
- Orientação em Sindicatos e Associações: Sindicatos rurais e associações são fundamentais para ajudar essas mulheres a entenderem os requisitos da reforma e a organizarem a documentação necessária. Esses grupos também podem fornecer atestados e declarações que validem o tempo de serviço rural.
5. Aspectos Positivos e Desafios da Reforma para as Trabalhadoras Rurais
A reforma da previdência manteve alguns aspectos positivos, como a idade mínima de aposentadoria para as trabalhadoras rurais e o não pagamento de contribuições mensais para o INSS. No entanto, os desafios se intensificam devido ao maior rigor na comprovação da atividade rural, que pode afastar muitas mulheres do benefício se elas não tiverem a documentação em dia.
Por outro lado, a reforma pode trazer mais justiça ao sistema previdenciário, evitando que pessoas que não exercem atividades rurais acessem o benefício de forma indevida. No entanto, a implementação desse controle precisa ser feita de forma justa, com atenção às dificuldades enfrentadas pelas trabalhadoras rurais.
6. O Papel do Governo e da Sociedade na Proteção dessas Trabalhadoras
É fundamental que o governo ofereça apoio e orientação para que as trabalhadoras rurais compreendam as novas regras da previdência e consigam cumprir os requisitos sem obstáculos. Campanhas de conscientização, assistência técnica e programas que ajudem na organização da documentação são necessários para garantir que essas mulheres tenham acesso aos seus direitos.
A reforma da previdência trouxe mudanças que impactam as mulheres trabalhadoras rurais de maneira significativa, especialmente no que diz respeito à comprovação da atividade rural. Ainda que a idade mínima e o tempo de atividade rural tenham sido preservados, o maior rigor nas comprovações pode dificultar o acesso ao benefício para aquelas que não possuem documentação organizada.
Para garantir o acesso à aposentadoria, é essencial que essas mulheres busquem orientação, organizem seus documentos e contem com o apoio de sindicatos e associações. Dessa forma, estarão mais preparadas para enfrentar os desafios impostos pela nova previdência e poderão, enfim, colher os frutos de uma vida dedicada ao trabalho no campo.